sábado, 15 março 2025
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O EVANGELHO PERIGOSO

Quando eu era criança (década de 50) frequentávamos com regularidade a Escola Dominical e aprendemos muito na Igreja Presbiteriana do Brasil, onde meu pai foi presbítero. Ali fomos ensinados que o evangelho é símbolo de paz, novidade de vida e boas notícias.
À medida em que o tempo passava, fui aprendendo que os apóstolos originais – todos eles – morreram de forma violenta. Aprendi também que pregar o evangelho poderia ser perigoso. Não por trazer a luz, a esperança e as boas novas do Cristo, mas por ser levado à pessoas que não entendem o verdadeiro significado do evangelho e, portanto, perigosas ao ponto de erigir Cristo ao calvário.
Há uns 45 anos fui designado a acompanhar, em todos os seus atos, o assassinato da esposa de um pastor em Goiânia. Ali durante 3 ou 4 dias, entre igreja, delegacia, depoimentos e cemitério, percebi o quanto pregar o evangelho se tornou perigoso.
Mesmo decorridos aqueles anos, a Igreja continua sendo perseguida em vários países do mundo, como na China, na Coréia do Norte, na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba, dentre tantos outros, assustando aqueles que militam na pregação do evangelho.
No hinário evangélico tem um hino que diz, ou dizia assim: “(…) Eis os milhões, que em trevas tão medonhas, jazem perdidos sem o salvador (…)”.  Atualmente, a letra foi alterada: “(…) Eis os bilhões (…)”, pois é mais fácil alterar a letra do hino do que ir ao campo missionário para visitar as famílias, pregando a Santa Palavra.
Se pregar o evangelho pode ser perigoso, levá-lo sem respeito aos princípios cristãos, de qualquer forma, com desfaçatez e sob o manto do pecado pode ser danoso, não apenas àqueles que pregam, mas também àqueles que recebem as palavras advindas de pastores que deveriam ser exemplo de Cristo, assim como foi o apóstolo Paulo. Agir assim, com negligência à palavra de Deus, é o que chamo de evangelho perigoso.
Quando acompanhei aqueles fatos inerentes ao assassinato da esposa do pastor em Goiânia, fiquei muito impressionado com a falta de sensibilidade da igreja de um modo geral, que não se manifestou acerca daquele terrível acontecimento, como também não deu o devido suporte à família enlutada.  Aonde estava, naquele momento, os irmãos evangélicos, o Conselho de Pastores e as Associações de Pastores para proteger a integridade do corpo de Cristo, como um todo?
Tivesse aquela desídia dos evangélicos apenas àquele fato, apesar de lamentável, poderia ser escusado. O que não pode ser perdoado é que a omissão continua e, muito pior, com a cumplicidade daqueles que deveriam ser exemplo de fé, da fé que pregam e dizem professar.
Faltam-lhes o conhecimento das palavras atribuídas à Martin Niemöller (1892-1984), pastor luterano na Alemanha que se tornou crítico da interferência de Hitler nas igrejas protestantes, tendo passado seus últimos oito anos do governo nazista em prisões e campos de concentração. A declaração a ele atribuída:
“Primeiro, eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado – porque não era socialista; então vieram buscar os sindicalistas e eu fiquei calado, porque não era sindicalista. Em seguida, vieram buscar os judeus e eu fiquei calado, porque não era judeu. Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender”.
Prefiro não dissecar acerca do texto acima, para bom entendedor as palavras falam por si.
Verdade seja dita, o mundo adentrou às igrejas, e já faz muito tempo. Observando o modo de vida de um modo geral de grande parte dos evangélicos, podemos notar que uma parcela considerável dos evangélicos já não prezam pela seriedade, pela dignidade, pelo compromisso com a verdade absoluta, ou mesmo com o bom senso… sucumbem à palavra de ordem chamada “inclusão”.
Isso significa dizer que é preciso aceitar a tudo e a todos em nome dessa dita “inclusão” – não há mais conversão à Cristo.  Carece hoje, no Brasil e no mundo, homens como Spurgeon ou D.L. Moody que, sem folhetos, sem rádio, sem TV, sem internet, e sem redes sociais ganharam mais de um milhão de almas para Cristo. Um feito extraordinário, a meu juízo.
No Brasil está faltando homens que levantem a bandeira do caráter, mas não apenas no meio evangélico. Faltam esses homens de brio e de coragem nas indústrias, no comércio, entre os financistas, na política, na educação… enfim, na sociedade como um todo. Homens que façam a diferença para não deixar acontecer o que está ocorrendo cotidiana e negativamente na vida das pessoas.
Dito isso, perquiro: aonde está a Igreja poderosa, portadora da graça de Deus em Cristo Jesus? Que se levantem hoje (o tempo oportuno é sempre o presente), deixando a área de conforto em que se encontram nossas lideranças evangélicas, naufragadas em corrupção e aceite das mazelas no chamado novo normal (inclusão).
Para se ter ideia, mais recentemente (2023/2024) a mais tradicional igreja no ramo pentecostal no Brasil, está sendo acusada de desvio de dinheiro e brigas dentro dos gabinetes pastorais, tudo por causa de um certo vil metal. Não raras às vezes, milhões foram parar nos bolsos dos presidentes dessas instituições. Em outros momentos, o adultério também fez, e lamentavelmente ainda faz, grandes estragos no meio evangélico.
Estamos perdendo os nossos filhos, as nossas crianças, bem ali, no quarto ao lado dos pais. A internet se tornou um instrumento útil, porém destruidor de formação e do caráter da nossa juventude.
É muito comum hoje a gente ver um pastor com carro de 100 mil reais; uns até com carros de 1.300.000 no meio de pastores da Assembleia de Deus em São Paulo. Se esse pastor adquirisse um bom carro por 300 mil, restariam cerca de um milhão para obras sociais ou evangelismo. São os mercenários da fé. Seria sim, um bom começo. Se cada igreja levantasse 10, 15, 20 mil reais por mês e aplicasse no evangelismo, a coisa seria muito diferente do que é.
O dinheiro amealhado às ovelhas tem sido utilizado para viagens aos Estados Unidos, Europa, Israel. Tem um pastor no Brasil que se orgulha de alardear que já fez 38 viagens a Israel, e bate no peito alegando o grande feito de ter ido quase 40 vezes à terra santa.
Homens que poderiam e deveriam ser exemplo, tais como o Pastor Silas Malafaia, grande orador, conhecedor da palavra, dominador da oratória convincente, tem na verdade se distanciado da plenitude do Evangelho, para seguir opinando e falando contra e a favor de algumas autoridades e políticos, cada um a seu tempo e de acordo com suas conveniências pessoais.
Foto: Reprodução
O Evangelho perigoso vai cobrar a prestação de contas dessas pessoas. A contrapartida todos nós conhecemos: pastores sérios passando necessidades básicas, sem plano de saúde, sem poderem dar educação aos filhos porque lhes faltam os recursos necessários.
Cadê a verdadeira Igreja? Ela está solta, livre no universo, particularmente nesse universo chamado Brasil, onde líderes não fazem qualquer prestação de contas dos valores arrecadados e, muito menos, para que, porquê e onde são aplicados tais recursos. As exceções são raras.
O evangelho da graça, das boas novas, das boas notícias, é o mesmo Evangelho Perigoso que pedirá a prestação de contas, e o tempo, a meu juízo, está mais próximo do que se possa imaginar.
A igreja perdeu a visão do Reino; seus líderes, o próprio Reino.
Rev. Maurilio Silva

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