Gn. 16.
A promessa de Deus a Abraão, de que ele teria muitos filhos, não tinha se cumprido.
Em profundo desespero ele clama em gritos a Deus dizendo: “ Meu Senhor, que me darás?
Continuo sem filhos…” Gn 15.2” .
Mesmo que Sara tivesse dado sua escrava para Abraão para gerar-lhe um filho,
parece que ela se arrependeu. Intrigas entre a patroa e serva fizeram com que a escrava,
ainda grávida, fugisse para o deserto. Ela sabia que tinha em seu ventre a herança, foi como
desafiar a Abraão. O anjo do Senhor lhe aparece e a orienta a retornar para a casa de
Abraão, que por ordem divina a acolheria.
A escrava rebelde e visionária.
Ela sabia que voltar para a casa de Abraão garantiria a ela e ao filho Ismael a
presença na terra de Canaã, onde Abraão já habitava por dez anos. Gn. 16,3.
Sem a terra, de nada valeria um filho, mesmo que fosse descendente de Abraão, ao
mesmo tempo, se o nome do filho não fosse dado por Abraão, de nada valeria a
descendência, ou, o reconhecimento paterno por parte de Abraão.
Sabendo dos seus direitos, não teria que suportar a imposição de Sara. É tão simples
entender, que Sara também era uma mulher, ( e humanos têm ciúmes). Seria lógico que a
escrava recebesse especial atenção de Abraão. Ela era jovem, bela e fértil e seria mãe do seu
primogênito.
Eu, ser tratada como escrava? Jamais, deve ter imaginado e reclamado com Abraão,
seu senhor e esposo, enquanto estavam na cama. Algumas pessoas ao lerem na Bíblia esta
fantástica história, tendem a usar da imaginação fértil, de que isso não teria acontecido. Era
um homem e uma mulher.
Ponha-se no lugar de qualquer um, destes três personagens.
* A escrava mesmo se não desejasse o corpo envelhecido de Abraão, era
obrigada a se deitar com ele.
* Abraão não tinha que ter receio. Afinal a escrava foi um presente da própria
esposa para lhe dar um filho; e para ter filho, naquela época, não havia outra maneira senão
ter relações sexuais.
* O ciúme de Sara, também, era compreensivo. Ela não podia voltar atrás e
tomar a escrava de Abraão, a escrava naquele momento, pertencia a Abraão. Ele sim,
poderia fazer com a escrava o que desejasse. Foi Sara quem apressou as coisas. Deus já
havia prometido um filho à ela.
Ter um filho aos cem anos de idade, e amamentá-lo, não é fácil de acreditar, mas
Deus havia prometido.
A Ganância: Assim que Sara conseguiu ter um filho com Abraão, ela exigiu a
expulsão da escrava para o deserto, dizendo: “Livre-se daquela escrava e do seu filho,
porque ele jamais será herdeiro com o meu filho”. Gn 21-10
Posso até compreender que Sara tenha se preocupado, a ponto de querer
resguardar toda a herança para o seu filho Isaac.
Lemos esta história e achamos tudo muito simples. O que está escrito é um pouco
do que interessa sobre a história; contudo, quando imaginamos o sofrimento de Sara, agora,
também mãe, ter que ouvir as afrontas do filho da escrava. Imagino que nas festas com seus
amigos, ele apontava para Sara e Isaac e riam todos, a velha teve um filho.
Quando Sara não suportou mais ser insultada em sua casa, decidiu que era chegada
a hora de livrar-se da escrava e de seu filho e mandou que seu esposo os expulsassem.
Abraão ficou muito perturbado, pois, envolvia a expulsão de um filho seu. Mas Deus
lhe disse: “ Não se turbe por causa do menino e da escrava. Atenda a tudo o que Sara lhe
pedir, porque será por meio de Isaque que a sua descendência há de ser conhecida. Mas
também do filho da escrava farei um povo; pois ele é seu descendente”. Gn 21, 11-12-13.
Na manhã seguinte, Abraão mesmo entristecido, pegou alguns pães e uma vasilha
de couro cheia de água, colocando-os nos ombros dela, despediu-a com o menino. Isso não
era o suficiente para duas pessoas atravessarem o deserto; e a escrava vagou durante dias
com o filho pelo deserto de Berseba.
O Anjo pronunciou o nome da escrava.
Até ai na narrativa desta fascinante história, o nome da mulher, mãe de Ismael, que
seria pai de uma grande nação era conhecida como a escrava. Sara a tratava assim. Não
pronunciava o seu nome, ela não era importante o suficiente para que tivesse que dizer o
seu nome. Ela era só uma propriedade de Sara, que fora dada como presente ao seu esposo.
Deus não tirou Agar e seu filho do deserto.
A água acabou.
O pão acabou.
A esperança também estava no fim.
Não tinha outro caminho senão, deixar morrer o filho de Abraão, o mesmo que Deus
havia prometido fazer dele uma grande nação.
Desanimada por ver chegar a morte para o filho, ela o sentou debaixo de um
arbusto, longe dele, começou a gritar e a chorar.
Deus ouviu o choro de Ismael, de onde decorre o significado do seu nome: “Deus
ouve”.
O encontro entre Deus e a escrava ocorre num estado de desespero de uma mãe
sem ação e Deus age sem pedir nada em troca; é assim que eu creio Nele.
E no deserto de Berseba Deus fez brotar água fresca e descanso para Agar e seu
filho.
O Anjo disse à mãe: “ O que tens Agar? Não temas, pois Deus ouviu os gritos da
criança, do lugar onde ele está. Ergue-te Agar! Levante a criança, segure-a firmemente,
porque eu farei dela uma grande nação”. Gn 21, 17-18.
Deus não tirou Agar e seu filho do deserto.
Ele deu o deserto como posse para Agar e Ismael. E ele cresceu no deserto de Farã, tornou-
se flexeiro e casou-se com uma mulher egípcia e construiu uma grande nação.. Gn 21, 19-21.
Mesmo que as pessoas o ignore, não pronunciem o seu nome, não desanime. Deus
conhece você pelo seu nome, assim como enumera a cada grão de areia.
“Não tenha medo, porque eu te remi: chamei-te pelo teu nome, tu és meu”.Isaías 43.1