O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) protocolou na última terça-feira (21) uma ação pedindo a intervenção na Fundação João Paulo II e o afastamento do Padre Wagner Ferreira da Silva, presidente do Conselho Deliberativo da entidade e da Comunidade Canção Nova, além de outros cinco membros do conselho. O caso ainda aguarda uma decisão judicial.
A promotora de Justiça Marcela Agostinho Gomes Ilha afirma na ação que a fundação apresenta “desvio de finalidade”, operando em benefício exclusivo da Comunidade Canção Nova. A Fundação João Paulo II, criada em 1982, é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos e tem como objetivo manter o Sistema Canção Nova de Comunicação e a Rede de Desenvolvimento Social Canção Nova para evangelizar em nome da igreja católica.
Manifestação do Padre Wagner
Em resposta à ação, o Padre Wagner Ferreira divulgou um vídeo nesta sexta-feira (24) nas redes sociais, defendendo a integridade da fundação e contestando o entendimento do MP-SP. Segundo ele, há uma “compreensão inadequada” sobre a relação entre a fundação e a Comunidade Canção Nova.
“No entendimento da Canção Nova, o presidente da comunidade também deve ser presidente da Fundação João Paulo II, como era na época do Monsenhor Jonas Abib, fundador de ambas. Trabalhamos assim durante anos sem conflitos ou dificuldades”, afirmou o padre. Ele ainda reforçou a importância da preservação da fundação para suas atividades evangelizadoras.
Principais pontos da ação
De acordo com a promotoria, a fundação tem sofrido uma “perda gradativa de autonomia”, sendo direcionada para atender exclusivamente aos interesses da Comunidade Canção Nova. A ação aponta dois aspectos dessa relação:
Aspecto interno: O Conselho Deliberativo da fundação teria ingerência excessiva sobre outros órgãos da entidade.
Aspecto externo: A relação entre as duas instituições resultaria em uma permissividade patrimonial e financeira da Fundação João Paulo II em favor da Comunidade Canção Nova, renunciando receitas importantes.
No documento enviado à Justiça, a promotoria afirma que essa relação prejudica a atuação independente da fundação, comprometendo seus objetivos filantrópicos e sua sustentabilidade financeira.
Próximos passos
O pedido de intervenção ainda será analisado pela Justiça. Caso aprovado, a Fundação João Paulo II poderá sofrer uma reorganização administrativa, com mudanças na gestão e nos membros do Conselho Deliberativo.
Padre rebate ação do MP-SP
O Padre Wagner Ferreira, presidente da Comunidade Canção Nova e da Fundação João Paulo II (FJP II), veio a público nesta sexta-feira (24) para comentar a ação ajuizada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que solicita a intervenção na FJP II. A manifestação foi feita por meio das redes sociais oficiais da Canção Nova, onde o sacerdote classificou o momento como “delicado” e criticou o que considera uma tentativa de laicização da fundação.
“A Fundação João Paulo II foi criada pelo Monsenhor Jonas Abib para ser confessional, com o propósito de evangelizar pelos meios de comunicação. Esse movimento quer tirar essa finalidade de evangelização da FJP II, e nós, como filhos do Padre Jonas, não podemos permitir isso”, declarou o sacerdote.
Histórico e finalidade da FJP II
Criada como mantenedora do Sistema Canção Nova de Comunicação e da Rede de Desenvolvimento Social Canção Nova, a FJP II é descrita pelo presbítero como uma instituição que vive da Canção Nova e para a Canção Nova. Padre Wagner destacou que a fundação atua para sustentar os projetos de evangelização pelos meios de comunicação e para promover o desenvolvimento social, finalidades que constam no estatuto da entidade.
“A Fundação João Paulo II foi instituída para que a Canção Nova pudesse evangelizar pelos meios de comunicação. Essa sempre foi a visão do Monsenhor Jonas Abib”, afirmou.
Chamado à união e orações
O Padre Wagner enfatizou que a comunidade está preparada para enfrentar as alegações do MP-SP com suporte jurídico sólido. Além disso, pediu o apoio dos sócios evangelizadores e dos fiéis em oração, destacando que é um momento de união para preservar o legado de Monsenhor Jonas Abib.
“Sabemos que muitas obras passam por tribulações quando o fundador vem a falecer. É um desafio que estamos vivendo, mas temos confiança de que venceremos essa batalha com fé, orações e ações coordenadas”, disse.