A destruição de Jerusalém em 70 d.C. foi um dos eventos mais marcantes da história judaica e romana. O responsável por essa conquista foi Tito Flávio, um general romano que mais tarde se tornaria imperador de Roma. A campanha de Tito contra Jerusalém ocorreu durante a Grande Revolta Judaica (66-73 d.C), um dos maiores levantes judaicos contra o domínio romano.
ANTES DA INVASÃO – O CONTEXTO DA GRANDE REVOLTA JUDAICA
O domínio romano sobre a Judeia começou em 63 a.C., quando o General Pompeu conquistou Jerusalém. Durante o governo do Império Romano, as tensões entre os judeus e os romanos aumentaram devido a pesados impostos, interferência religiosa e a presença de tropas romanas no território sagrado.
Em 66 d.C., estourou a Grande Revolta Judaica, quando os rebeldes judeus expulsaram os romanos de Jerusalém e derrotaram uma legião enviada para restaurar a ordem. Em resposta, o imperador Nero ordenou que Vespasiano liderasse a repressão da revolta, trazendo consigo seu filho Tito Flávio, como comandante militar.
Vespasiano e Tito iniciaram a reconquista da Judeia em 67 d.C., recuperando diversas cidades, como Jotapata e Gamla. No entanto, com a morte de Nero em 68 d.C., Vespasiano foi proclamado imperador e deixou a continuação da guerra nas mãos de Tito.
A INVASÃO E A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM (70 d.C.)
Tito cercou Jerusalém com quatro legiões romanas, cortando o abastecimento de comida e água. Dentro da cidade, grupos judaicos estavam divididos em facções que lutavam entre si, enfraquecendo a resistência.
Tito ordenou a construção de muralhas cercando toda a cidade, impedindo qualquer tentativa de fuga ou abastecimento. Essa tática visava enfraquecer os defensores por fome e desespero. Além disso, o exército romano utilizou:
– Torres de cerco, que permitiam atacar as muralhas por cima;
– Arietes, para romper os portões da cidade;
– Catapultas (balistas e onagros), que lançavam pedras e projéteis incendiários sobre as muralhas e dentro da cidade.
Dentro de Jerusalém, a fome se tornou tão intensa que relatos indicam que algumas mães chegaram a devorar seus próprios filhos para sobreviver, conforme relatado por Flávio Josefo.
Quando os soldados romanos chegaram ao Templo de Jerusalém, Tito supostamente queria preservá-lo, mas seus soldados, tomados pela fúria, incendiaram o local. O fogo consumiu toda a estrutura, e o Templo, que era o centro da fé judaica, foi reduzido a cinzas.
Após meses de cerco e fome devastadora, as tropas romanas romperam as muralhas da cidade e invadiram Jerusalém. O Templo de Jerusalém, o local mais sagrado para os judeus, foi incendiado e destruído. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, que acompanhou os romanos, cerca 1,1 milhão de pessoas foram mortas e milhares foram escravizadas ou levados cativos para Roma.
Tito ordenou que a cidade fosse saqueada e grande parte dela foi arrasada, com exceção de algumas torres e partes do muro, deixadas em pé como lembrete da grandeza de Roma e da destruição que causaram.
Tito Flávio, como comandante das legiões romanas na judeia, executou uma das mais brutais campanhas militares da história antiga. Sua estratégia militar, as táticas de cerco e os eventos que levaram à destruição de Jerusalém demonstraram sua habilidade como general e a determinação do Império Romano em reprimir a revolta judaica.
PÓS GUERRA – A EXIBIÇÃO DA VITÓRIA EM ROMA
Após a destruição de Jerusalém, Tito retornou a Roma como herói vitorioso. Em 71 d.C., ele e seu pai, o imperador Vespasiano, realizaram um triunfo romano, onde desfilaram pelas ruas de Roma com prisioneiros judeus e os tesouros saqueados do Templo.
Os espólios de Guerra, incluindo o Menorá de Ouro, foram levados para Roma e usados no financiamento da construção do Coliseu.
O Arco de Tito, que ainda hoje está de pé em Roma, foi erguido para celebrar essa vitória e mostra esculturas do saque de Jerusalém, incluindo os soldados carregando o Menorá e outros objetos sagrados do Templo.
– A destruição do Templo marcou o fim do segundo Templo Judaico, mudando para sempre o judaísmo, que passou a ser praticado sem sacrifícios e sem o templo central;
– Muitos judeus foram dispersos, iniciando a Diáspora Judaica, com comunidades judaicas se espalhando pelo mundo;
– O Império Romano consolidou seu domínio sobre a judeia, que se tornou ainda mais romanizada.
TITO – DE GENERAL A IMPERADOR
Depois da morte de Vespasiano em 79 d.C., Tito assumiu o trono imperial. Ele governou por apenas dois anos, mas ficou conhecido por sua generosidade e administração.
Tito reinou entre 79-81 d.C., e ficou marcado pela conclusão do Coliseu de Roma e pelo auxílio às vítimas da erupção do Vesúvio, que destruiu Pompeia e Herculano. Ele morreu em 81 d.C., aos 41 anos.
Tito Flávio ficou marcado como o destruidor de Jerusalém, e sua campanha mudou para sempre a história do povo judeu. O fim do segundo templo e a dispersão dos judeus pelo mundo influenciaram profundamente o judaísmo e a história do Oriente Médio. O impacto da queda do Templo e da dispersão dos judeus moldou a história religiosa, política e cultural do mundo ocidental e do Oriente Médio por séculos.
Apesar da brutalidade da guerra, Tito também foi lembrado como um imperador benevolente, além de comandante implacável. conhecido por sua generosidade e liderança eficaz durante crises. Seu legado ainda pode ser visto no Arco de Tito, no Coliseu e na história da cidade de Jerusalém.